terça-feira, 31 de agosto de 2010

Carta de repúdio ao despreparo na gestão da educação em São Paulo

Como mãe de dois filhos, me senti estarrecida neste último dia de agosto, como todas as mães e mulheres deveriam estar, com os atos que se seguiram à requisição do governo do Estado de São Paulo em recuperar o material entregue pela Secretaria de Educação dias atrás.

Não apenas por conta da grosseria e da rispidez dos funcionários em reaver as obras – uma a uma, com ganas.
Não apenas pelo descaso em não comunicar propriamente professores, cidadãos e alunos da real necessidade, impondo à questão ares de mistério e de maneira tirânica, conforme relatos.

Não apenas por esta decisão apresentar a torta maneira de gerir a educação neste estado, que sexualiza a educação e constrói um mundo diferente do real aos olhos dos jovens.
Não apenas porque recursos na ordem de milhões foram gastos com a publicação de mais uma obra a ser recolhida e ter o destino da incineração ou de um depósito qualquer.

Fico ofendida por tudo isso, mas, principalmente, pois apresenta o descaso e o despreparo em lidar com a juventude e com a educação - tão primordiais para mim como mãe, tão desimportantes em outras esferas.

Enfim, depois de tudo que temos visto nos últimos anos, não me surpreendo com a atitude, mas fico imensamente preocupada.


Mais informações:

A literatura é sim importante à formação da cidadania e do caráter de nossas crianças e não deve ser encarada como mero adendo à educação. Precisa ser encarada com seriedade. Não é de bom tom permitir que o material obrigatório de leitura do estado incite a sexualidade nos jovens do ensino fundamental e médio, ensine palavras impronunciáveis de baixo calão ou recrie ambientes libidinosos. Não que a leitura de Ignácio Loyola deva ser censurada, mas o cuidado redobrado que se precisa ter ao ler “Obscenidades de uma dona de casa” é imenso – até porque ainda não atingimos (pais, professores e educadores) o grau de maturidade para leituras obscenas em sala de aula.

Ao ter conhecimento da polêmica após ligação de dezenas de mães aflitas e de professoras da rede estadual nervosas por conta dos acintes, me sinto no direito e no dever de defender nossas crianças. Boquiaberta, refleti: “Será que é esse o tipo de livro que o governador e demais autoridades leriam a seus netos e netas. Trata-se de um desserviço, qualquer que seja a resposta. Fico pensando, com tanto a ser lido e com tantas obras importantes a serem financiadas, precisamos ficar controlando as escolhas duvidosas do Estado. Que situação lastimável!”.

A defesa da Secretaria de Educação do Estado, publicada em nota, é a de que como o livro foi selecionado por banca de consultores de uma universidade alemã e da USP, a escolha havia sido adequada. Mas se tanto pavor tem causado aos pais, há sim, um grande problema no ar. Será que é essa a sociedade que queremos, onde pais e especialistas em educação apontados pelo governo divergem em uma questão tão simples como o livro que nossas crianças devem ler? Quem estará errado? O Estado ou a sociedade?

Enfim, depois de tudo que temos visto nos últimos anos, não me surpreendo com a atitude, mas fico imensamente preocupada.

Estela Almagro


Este é o livro recolhido

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