Como mãe de dois filhos, me senti estarrecida neste último dia de agosto, como todas as mães e mulheres deveriam estar, com os atos que se seguiram à requisição do governo do Estado de São Paulo em recuperar o material entregue pela Secretaria de Educação dias atrás.
Não apenas por conta da grosseria e da rispidez dos funcionários em reaver as obras – uma a uma, com ganas.
Não apenas pelo descaso em não comunicar propriamente professores, cidadãos e alunos da real necessidade, impondo à questão ares de mistério e de maneira tirânica, conforme relatos.
Não apenas por esta decisão apresentar a torta maneira de gerir a educação neste estado, que sexualiza a educação e constrói um mundo diferente do real aos olhos dos jovens.
Não apenas porque recursos na ordem de milhões foram gastos com a publicação de mais uma obra a ser recolhida e ter o destino da incineração ou de um depósito qualquer.
Fico ofendida por tudo isso, mas, principalmente, pois apresenta o descaso e o despreparo em lidar com a juventude e com a educação - tão primordiais para mim como mãe, tão desimportantes em outras esferas.
Enfim, depois de tudo que temos visto nos últimos anos, não me surpreendo com a atitude, mas fico imensamente preocupada.
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A literatura é sim importante à formação da cidadania e do caráter de nossas crianças e não deve ser encarada como mero adendo à educação. Precisa ser encarada com seriedade. Não é de bom tom permitir que o material obrigatório de leitura do estado incite a sexualidade nos jovens do ensino fundamental e médio, ensine palavras impronunciáveis de baixo calão ou recrie ambientes libidinosos. Não que a leitura de Ignácio Loyola deva ser censurada, mas o cuidado redobrado que se precisa ter ao ler “Obscenidades de uma dona de casa” é imenso – até porque ainda não atingimos (pais, professores e educadores) o grau de maturidade para leituras obscenas em sala de aula.
Ao ter conhecimento da polêmica após ligação de dezenas de mães aflitas e de professoras da rede estadual nervosas por conta dos acintes, me sinto no direito e no dever de defender nossas crianças. Boquiaberta, refleti: “Será que é esse o tipo de livro que o governador e demais autoridades leriam a seus netos e netas. Trata-se de um desserviço, qualquer que seja a resposta. Fico pensando, com tanto a ser lido e com tantas obras importantes a serem financiadas, precisamos ficar controlando as escolhas duvidosas do Estado. Que situação lastimável!”.
A defesa da Secretaria de Educação do Estado, publicada em nota, é a de que como o livro foi selecionado por banca de consultores de uma universidade alemã e da USP, a escolha havia sido adequada. Mas se tanto pavor tem causado aos pais, há sim, um grande problema no ar. Será que é essa a sociedade que queremos, onde pais e especialistas em educação apontados pelo governo divergem em uma questão tão simples como o livro que nossas crianças devem ler? Quem estará errado? O Estado ou a sociedade?
Enfim, depois de tudo que temos visto nos últimos anos, não me surpreendo com a atitude, mas fico imensamente preocupada.